As mulheres são mais inteligentes emocionalmente do que os homens?
A empatia, traço de inteligência emocional que nos permite compreender como outras pessoas se sentem e ajuda a forjar conexões mais próximas com elas, pode ser determinada geneticamente, pelo menos em parte, e é mais comum nas mulheres do que nos homens, segundo um novo estudo.
Este estudo com 46 mil pessoas, feito pela Universidade de Cambridge, em Inglaterra, é o primeiro a encontrar evidências de que os genes têm um papel no nível de empatia dos seres humanos.
Até hoje, a empatia era considerada um traço de personalidade que pode ser desenvolvido durante a infância e através das experiências de vida. Esta característica ajuda a
reconhecer as emoções de outras pessoas e a responder de maneira apropriada, por exemplo, para saber quando alguém está triste e precisa de ser consolado. Mas na nova
pesquisa, divulgada no periódico científico Translational Psychiatry, cientistas debruçaram-se sobre a hipótese de esta característica também poder estar nos nossos genes.
“Quociente de empatia”
Os participantes do estudo tiveram o seu “quociente de empatia” medido através de um questionário e forneceram amostras de saliva para testes de ADN.
A partir daí, os cientistas procuraram diferenças nos seus genes que pudessem explicar porque é que algumas pessoas são mais empáticas do que outras.
Descobriram que, pelo menos, 10% das diferenças no grau de empatia das pessoas podem ser creditadas à genética. E determinaram também que as diferenças genéticas associadas a um menor grau de empatia estão ligadas a um risco maior de autismo.
As mulheres tiveram pontuação média maior do que os homens no questionário. Do máximo de 80 pontos, as voluntárias conseguiram, em média, 50, contra 41 deles.
Mas os investigadores afirmam que ainda não conseguiram identificar que traços genéticos são os responsáveis pela diferença de género.
“É um passo muito importante para entender o papel que a genética tem nesta capacidade”, refere o líder do estudo, Varun Warrier, citado pela BBC.
“Mas como só um décimo da variação de empatia entre os indivíduos é causado pela genética, continua a ser muito importante entender os factores não genéticos”, destaca.
É preciso estudar mais pessoas
No entanto, os cientistas reconhecem que a pesquisa tem limitações. O facto de o quociente de empatia ser determinado por um questionário, por exemplo, poderá enviesar os resultados.
Além disso, ainda não conseguiram encontrar os “genes da empatia”, especificamente responsáveis pela característica, apesar de terem percebido diferenças entre pessoas mais ou menos empáticas.
Os autores do estudo afirmam que é preciso um número ainda maior de pessoas para encontrar possíveis genes que afectem o grau de empatia.
O professor Gil McVean, que lecciona genética estatística na Universidade de Oxford, no Reino Unido, refere à BBC que o papel dos genes na empatia ainda é “menor”, quando comparado com outros factores relacionados com o ambiente em que a pessoa cresce.
“Sabemos que qualquer coisa que se pode medir nos humanos tem uma componente genética. Isso já estabelece que a empatia também pode ter uma componente hereditária”, afirma.
Já Edward Baker, do departamento de psicologia da King’s College London, refere que o estudo é um “primeiro passo” para explorar o elo de ligação entre a genética e a personalidade. O investigador concorda, no entanto, que é necessário investir numa pesquisa ainda maior.