“Todos os
homens têm direito a tudo que pedem”, disse Fidel a Sartre.
—“E se
eles pedem a Lua?” — quis saber Sartre.
—“Se eles
pedem a Lua” — respondeu Fidel — “é porque dela necessitam”.
Sartre confessou, mais tarde, que Fidel era um político único, uma
espécie de ilha. Como Cuba. Vi Fidel uma
vez na vida, no dia da posse de Fernando Collor. Estava na equipe do Jornal do Brasil e atravessava a pé a distância
que separa o Congresso das 24 colunas que sustentam o Palácio do Planalto. Era uma manhã excepcionalmente clara.
De repente, veio na minha direção um
leviatã de fotógrafos. Saí rapidamente da frente. Se perder a imagem, o fotógrafo não conseguirá recuperá-la. Só quando
se abriu uma clareira no leviatã, vi o motivo do tumulto: Fidel Castro estava
bem do meu lado, a menos de dois metros de distância. Apertei bem
os olhos, como fazem os míopes, para ver Fidel de perto.
Seu porte é compatível
com sua grandeza histórica. Parece um gigante. Reconheço isso, mesmo discordando
dele. Aliás, apesar da pressão da minha geração na universidade, nunca
fui fanática por Fidel. E, no entanto...No entanto, sempre consegui entender as
razões que levavam jovens do mundo inteiro a admirá-lo. Ele simbolizou o "David" que enfrentou e venceu
"Golias".
Não há metáfora mais forte que essa no contexto de países
pobres, submetidos a uma vida política fodida e quase sem líderes para respeitar. Não ignoro (e também considero imperdoável) que o embargo dos Estados
Unidos tenha lançado Cuba no abismo econômico durante tantos e tantos anos. Acredito, contudo, que o maior de
todos os problemas do país sempre foi político.
Fidel ficou tempo demais no poder, sem aceitar a rotatividade, e sem permitir
contestação. Não há futuro político sem liberdade, sem respeito à Oposição, sem eleição e sem liberdade de imprensa. Sem isso, vale dizer o pacote da democracia, a história de Cuba desandou e
todo o mundo lá passou a viver em condições difíceis de suportar. E o país
tornou-se uma ditadura cruel, triste e anacrônica.
Ninguém fica indiferente à beleza natural de Cuba. A linha de horizonte em Havana é tão ampla, que não consigo compreender porque Fidel abriu mão do ideal da liberdade. Ainda bem que agora, com a virada na política internacional de Obama e o fim do embargo, os cubanos voltam a ter o sentido da utopia e da esperança. Aos 90 anos, Fidel acompanha tudo. Ele jamais
deixará de ser o guerreiro do seu povo, aquele que buscou o impossível para mudar
a vida do seu país e a história do seu tempo.
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