quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Homenagem a Picasso




"O esquadro disfarça o eclipse
que os homens não querem ver.
Não há música aparentemente
nos violinos fechados.
Apenas os recortes dos jornais diários
acenam para mim como o juízo final."

João Cabral Melo Neto

Deve-se escrever...

 
 
"Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer." (Graciliano Ramos)

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Você é um bom vendedor ?

Um garoto inteligente, vindo da roça, candidatou-se a um emprego numa grande
 loja de departamentos da capital dos Estados Unidos. Na verdade, era uma das maiores lojas de departamentos  do mundo, quase tudo podia ser comprado ali.
  

O gerente perguntou ao rapaz:
 - Você já trabalhou alguma vez?
 - Sim, eu fazia negócios na roça.

 O gerente gostou do jeitão simples do moço e disse: Pode começar amanhã, no fim
 da tarde venho ver como se saiu.


 O dia foi longo e árduo para o rapaz.

 Às 17h30 o gerente se acercou do novo empregado para verificar sua
 produtividade e perguntou:

 - Quantas vendas você fez hoje?

 - Uma!

 - Só uma? A maioria dos meus vendedores faz de 30 a 40 vendas por dia.

 - De quanto foi a sua venda?

 - Dois milhões e meio de reais.

 - Como conseguiu isso?

 - Bem, o cliente entrou na loja e eu lhe vendi um anzol pequeno, depois um
 anzol médio e finalmente um anzol bem grande.
 Depois vendi uma linha fina de pescar, uma de resistência média e uma bem
 grossa. Para pescaria pesada, sabe. Perguntei onde ele ia pescar e ele me disse
 que ia fazer pesca oceânica. Eu sugeri que talvez fosse precisar de um barco,
 então o acompanhei até a seção de náutica e lhe vendi uma lancha importada, de
 primeira linha.
 Aí eu disse a ele que talvez um carro pequeno não fosse capaz de puxar a lancha
 e o levei à seção de carros e lhe vendi uma caminhonete com tração nas quatro
 rodas.


 Perplexo, o gerente perguntou:

 -Você vendeu tudo isso a um cliente que veio aqui para comprar um pequeno
 anzol?

 -Não senhor. Ele entrou aqui para comprar um pacote de
 absorventes para a mulher, e eu disse: ‘já que o seu fim de semana está perdido,
 por que o senhor não vai pescar?’

sábado, 17 de janeiro de 2015

Adeus Oswaldo!


 

Sempre admirei seu coração doce. De alguma maneira, mesmo pertencendo a  gerações diferentes, estivemos próximos por exercermos o mesmo ofício e morarmos na mesma cidade. Acredito também que partilhávamos, antes de tudo, a visão de um mundo mais desejável, mais amável e mais amigável. Acredito, igualmente, que o desejo de zelar, ambos na sombra - como devem fazer os assessores - pelo bom relacionamento entre as pessoas também nos unia. Era quase impossível não ouvi-lo. Você defendia seu pontos de vista com simplicidade, discrição e gentileza. Fiz muito gosto quando a menina Marina apaixonou-se por você há muitos anos, na alegre redação do Correio Braziliense que tivemos a felicidade de frequentar. Hoje é um dia triste. Levei um susto ao saber que seu jovem coração falhou. Adeus Oswaldo!

 

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Maquiavel é cruel




Não é por acaso que Nicolau Maquiavel é considerado o autor que melhor decifra os jogos do poder. "Maquiavel é cruel", dizia um dos meus professores de História, enfatizando a rima improvisada com o nome do escritor. Abaixo, alguns postulados de Maquiavel:

“Aos amigos os favores, aos inimigos a lei.”

“Os preconceitos têm mais raízes do que os princípios.”

“Creio que seriam desejáveis ambas as coisas, mas, como é difícil reuni-las, é mais seguro ser temido do que amado.”

“Quem num mundo cheio de perversos pretende seguir em tudo os ditames da bondade, caminha inevitavelmente para a própria perdição.”

“Os fantasmas causam maior medo de longe do que de perto.”

"Lembre-se que Deus é terminantemente contra a guerra, mas protege quem atira bem"

“Quero ir para o inferno, não para o céu. No inferno, gozarei da companhia de papas, reis e príncipes. No céu, só terei por companhia mendigos, monges, eremitas e apóstolos.”

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Razão e moderação




De todas as pessoas importantes que marcharam em Paris contra o terrorismo, destaquei Abdullah II e Rania, os reis da Jordânia. Por uma razão que me pareceu simples: eles são dirigentes muçulmanos que agem com razão, coragem e moderação.
Acredito que as figuras responsáveis entre os muçulmanos, que são uma esmagadora maioria, deveriam reagir com firmeza, como Abdullah II e Rania, contra os atos terroristas. A pusilanimidade só leva à tragédias cada vez mais maiores, como a história prova. 
Se a maioria dos dirigentes muçulmanos moderados assumir o combate ao radicalismo talvez seja possível limitar estatisticamente o desenvolvimento das redes que planejam e executam os atentados terroristas.  O ato terrorista em Paris vai deixar marcas na história. Mais do que para a França é para o mundo muçulmano que os olhares se voltarão nos próximos dias.
Há uma grande inquietação em toda a Europa, uma preocupação evidente pela crescente afirmação do islamismo entre muçulmanos jovens, nascidos em solo europeu. Isso cria reflexos anti-imigração. E favorece o discurso racista e xenófobo que muitos franceses, e muitos europeus, já fazem. 
 
 
 
 
 


 

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Lucidez e perserverança...

 
 
 
 
Ultrapassar os preconceitos e os ódios não está inscrito na natureza humana. Aceitar o outro não é nem mais nem menos natural do que rejeitá-lo. Reconciliar, reunir, adotar, moderar, pacificar são gestos voluntários, gestos de civilização que exigem lucidez e perseverança; gestos que se adquirem, que se ensinam, que se cultivam. Ensinar os homens a viver juntos é uma longa batalha que nunca está completamente ganha. Requer uma reflexão serena, uma pedagogia hábil, uma legislação apropriada e instituições adequadas.
Texto extraído do livro Um Mundo Sem Regras de Amin Maalouf. Fiquei encantada ao ler o livro. E o parágrafo em destaque pareceu-me uma reflexão serena, de grande pedagogia. 

 

domingo, 4 de janeiro de 2015

Novo desafio no trabalho

 
 
A partir de amanhã, 5 de janeiro de 2015, vou assumir a assessoria de imprensa do Ministério da Agricultura a convite da senadora Kátia Abreu, nova titular da pasta. A notícia devia parar aqui, mas gostaria de acrescentar algumas palavras. Nenhuma mulher se torna juíza, chefe de sua família ou ministra de Estado, por não ser homem. Na verdade, as mulheres só alcançam esses postos porque se esforçam, porque enfrentam as correntezas.

Estou dizendo isso porque sei que é fácil não gostar de Kátia Abreu, mas sei, igualmente, que é quase impossível não reconhecer os resultados que ela vem obtendo na política. Desde que chegou no Congresso, como suplente de deputada federal do então PFL, em 2000, ela mostra coragem e frontalidade na defesa dos seus interesses e do seu grupo. Sem medo de polêmicas assume, sem fazer concessões, a posição que julga mais conveniente. E diz o que lhe apetece.

Aliás, enquanto muitos criticavam seu jeito apressado de mover-se em direção ao topo e alguns até tentavam, sem muito êxito, moderar seu discurso, ela tratava de sair da pequena cidade de Gurupi onde vivia, no interior do Tocantins, para ocupar o centro da arena política. Ninguém deu por isso. Coisa fácil? Não deve ser. Afinal, estamos falando de eleger-se para a Câmara como campeã de votos, avançar e conquistar uma cadeira no Senado e, em seguida,  assumir o comando da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil, CNA, uma das entidades mais poderosas e mais fechadas do país.

Ao tornar-se a primeira mulher a presidir a CNA, por meio do voto, ela mostrou que as mulheres não sobem apenas por necessidade das corporações de diversificar o quadro ou de combater o machismo, mas, por méritos medidos por padrões que valem tanto para homens quanto para mulheres. Quando ela assumiu a CNA há seis anos fui sua assessora pessoal para assuntos de comunicação. Nas viagens, éramos apenas três mulheres: ela, a jornalista Otília Goulart, assessora de imprensa da CNA,  e eu. Movíamos em um mundo totalmente masculino.
 
Por onde passávamos, Kátia Abreu reunia centenas de produtores e defendia, com segurança e objetividade, a modernização do setor. Determinada a fazer diferença na história da agricultura e da CNA, Kátia Abreu, nos últimos quatro anos, aproximou-se da presidente Dilma. Primeiro, pediu audiência e levou bandeiras, propostas,  santos de devoção, cópias de novenas e um pedido:  ajuda do Estado para mudar o campo. Foi ouvida.

"É preciso  impulsionar o surgimento de uma classe média no campo, como foi feito nas áreas urbanas" afirmou, argumentando com estatísticas que temos uma minoria de produtores rurais gigantes e milhões de pequenos. Ela e Dilma passaram a conversar também sobre a nova lei de portos, investimentos em logística e sobre a necessidade de aumentar a presença do Estado nos acampamentos rurais, onde a pobreza é extrema.

A ministra da Agricultura aposta que conseguirá mudar o perfil do campo brasileiro sem atritos com os defensores do meio ambiente e dialogando com os pequenos agricultores. Não é fácil, mas acho que não é impossível, uma vez que ela é firme e determinada. Sei que algumas pessoas não gostam de Kátia Abreu. Para ser sincera, acho que ela também não gosta dos que não gostam dela. A verdade é que Kátia Abreu é segura de suas ações e sabe, como poucos, lidar com o poder e avançar em busca dos seus objetivos.