quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Para saber a verdade é preciso ter coragem...


O filósofo Michel Foucault, em "Fearless Speech", uma compilação de seis conferências que ele fez na Universidade de Berkeley, analisa a importância da verdade desde a Grécia Antiga e assegura: a capacidade de acreditar, e de agir de acordo com os princípios da verdade e da sinceridade, pertence a um pequeno grupo de pessoas: as corajosas.

Segundo Foucault, acreditar no que é a verdade significa saber o que é a verdade. E, para saber o que é verdade, é preciso coragem para não aceitar certezas e crenças estabelecidas. De fato. Tomás de Aquino definiu a verdade como expressão da realidade. Chegar à verdade, contudo, é complexo, talvez mesmo impossível dentro da limitada capacidade humana de racionalização.

Em grego, a verdade (aletheia) significa aquilo que não está oculto, o não escondido, manifestando-se aos olhos e ao espírito, tal como é, ficando evidente à razão. Em latim, a verdade (veritas) é aquilo que pode ser demonstrado com precisão, referindo-se ao rigor e a exatidão. Assim, a verdade depende da veracidade, da memória e dos detalhes. Em hebraico, a verdade (emunah) significa confiança, é a esperança de que aquilo que é será revelado, irá aparecer por intervenção divina.




domingo, 25 de novembro de 2012

O que é importante?




Natal é a celebração do nascimento de Jesus. Celebrar Cristo é celebrar o amor, a generosidade e a bondade entre os homens. É importante reforçar a mensagem de Cristo, para que se faça chegar a ternura aos corações. Feliz Natal!

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Não é esta a cidade dos meus sonhos...



Como se não bastasse estar encalhada na vida, comecei a ficar encalhada no trânsito. Não, não é brincadeira. Brasília vive dias estranhos com apagões, alagamentos, sensação de abandono e lentidão. A comprovada rapidez nos deslocamentos é coisa do passado. Agora, o normal é ficar dez, vinte, até quarenta minutos esperando para atravessar uma asa ou sair da Esplanada. Com a chuva e o temporal dos últimos dias a coisa ficou mais complicada. 

Sem contar que tudo isso acontece em Novembro, o mês mais azedo do calendário. É, novembro é terrível,  trata-se do único mês sem personalidade: ainda não é Natal, mas já temos de conviver com os cartazes que nos fazem lembrar as incontornáveis compras, os incontornáveis “amigos-ocultos”, os incontornáveis cartões de boas festas, os shopping lotados, os jantares de comemoração, etc, etc.

É difícil não ficar tenso.  Ainda por cima tenho outro motivo para queixas: meu aniversário coincide com o final do ano, então sou obrigada a conviver com os dissabores do envelhecimento, os dissabores do trânsito e os dissabores das chuvas tudo ao mesmo tempo. E a casa? Ai, ai, ai, ia me esquecendo que neste ano tenho de fazer árvore de Natal para a Giovana, minha neta. É, a bebezinha já tem dois anos e vai sentir falta se não puder contar com o presentinho dos avós.

Só me faltava esta agora, voltar a fazer árvore de Natal e ir escolher enfeites com esta chuva e nesta cidade estranha. Será que alguém pode me dizer se fora da natureza existe alguma árvore de bom gosto? Deus do Céu, é Natal, vou ter de me afundar no Frontal! É, definitivamente, não é esta a festa dos meus sonhos, não é esta a cidade dos meus sonhos e não é esta a vida dos meus sonhos.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Sentimento




Viver de um modo seguro - não dizer o que a gente pensa e falar sempre de coisas leves e  agradáveis -  é realmente um tédio.

domingo, 11 de novembro de 2012

Carga Genética




Choveu e fiquei deprimida no meu canto, pensando que minha vida daria uma história que Kafka poderia ter escrito. Exagero? Certamente. Sou dramática e exagerada, mas já tenho linha de defesa: deve ser defeito genético. Ninguém acredita? Posso provar. Certa vez, ao ver que minha irmã havia quebrado a unha do mindinho, abri a bolsa e lhe ofereci uma lixa. Mais derretida que manteiga esquecida no sol, ela disse:

 - Você acaba de salvar a minha vida, muito obrigada!

Olhei em volta buscando alguma testemunha porque não podia acreditar no que estava ouvindo, enquanto minha irmã começava a operação de lixar a unha, muito séria e concentrada. Pensei: exagero neste volume e nesta intensidade é doença e, como também sou exagerada, isso é carga genética. E carga genética sempre merece desculpa. Vencer, superar, procurar ajuda psicológica e mudar são coisas que, neste momento, eu não gostaria de discutir.  

  

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

E se você tivesse o anel de Giges?



A moral não existe para punir, para reprimir, para condenar. Para isso há tribunais e prisões. A moral se manifesta dentro de cada um de nós, onde nós somos livres. Se uma pessoa quer roubar algo numa loja, mas há um guarda observando, ou uma câmera filmando, a pessoa recua com medo de ser apanhado, de ser punido, de ser condenado? Ok, ela não recuou por honestidade, recuou por cálculo. Então, isso não é moral; é precaução. O medo da autoridade é o contrário da virtude, ou é apenas a virtude da prudência. Imagina, pelo contrário, que aquela pessoa, ou mesmo você, tem o anel de que fala Platão, o anel de Giges. É um anel mágico que torna você invisível. Giges, que era um homem honesto, encontrou o anel mas não soube resistir às tentações: aproveitou os poderes mágicos para entrar no Palácio, seduzir a rainha, assassinar o rei, tomar o poder e exercê-lo em seu exclusivo benefício...

Quem conta a história n'A República [uma das obras de Platão] conclui que o bom e o mau não se distinguem senão pela prudência ou pela hipocrisia. O que isto sugere? Que a moral pode ser apenas uma ilusão, um engano, um medo disfarçado de virtude. Bastaria ter a posse do anel para que qualquer interdição desaparecesse, e não houvesse senão a procura, por parte de cada um, do seu prazer ou do seus interesses egoístas. Será isto verdade? Claro que Platão está convencido do contrário. Mas ninguém é obrigado a ser adepto de Platão. O que pensar, então? Que a única resposta válida está em cada um de nós. E você, o que faria se tivesse o anel de Giges? Qual seria a sua moral? Aquilo que você exige de você, não em função do olhar dos outros ou desta ou daquela ameaça exterior, mas em nome do seu entendimento do bem e do mal, do admissível e do inadmissível.

Concretamente: sua moral é o conjunto das regras que você obedece de forma livre, mesmo que fosse invisível e invencível. Você não tem o anel? Isso não dispensa ninguém da necessidade de refletir, de julgar, de agir. Se há uma diferença mais do que aparente entre um homem mau e um homem bom é porque o olhar dos outros não é tudo, porque a prudência não é tudo. Tal é a aposta da moral e a sua solidão derradeira: toda a moral é em relação ao outro, mas é pessoal e intransferível. Claro que agir moralmente é tomar em consideração os interesses do outro, mas «às ocultas dos deuses e dos homens», como diz Platão, ou, dito de outro modo, sem recompensa nem castigo possíveis e sem ter necessidade, para isso, de outro olhar que não o próprio.

E não é a religião que fundamenta a moral; pelo contrário, é a moral que fundamenta ou justifica a religião. Não é porque Deus existe que devo agir bem; é por agir bem que posso ter esperança — não para ser virtuoso, mas para escapar ao desespero — de crer em Deus. Não é porque Deus me ordena qualquer coisa que isso é bom; é por um mandamento ser moralmente bom que posso acreditar que vem de Deus. Deste modo, a moral não impede a crença, até conduz, segundo Kant, à religião. Mas não depende desta nem pode ser reduzida a ela. Mesmo que Deus não exista, mesmo que não haja nada depois da morte, isso não dispensa você, ou ninguém, de agir de forma humana. 


sábado, 3 de novembro de 2012

Política na imprensa

Todos os projetos de comunicação social são projetos políticos. Desde sempre: na origem da imprensa não estão fofocas da corte, matérias educativas ou de prestação de serviço. Na origem da imprensa está a propaganda jacobina dos panfletos contra Luis XVI. Não há nada errado com projetos políticos. Errado é negar a política. Sem intermediação política não há vida em sociedade, tampouco vida civilizada. Aliás, é à política que devemos recorrer para construir, de forma democrática, as regras que temos de obedecer.