segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Só a educação garante avanços


O Ministério da Educação divulgou nesta segunda-feira o novo valor do piso salarial nacional para os professores de educação básica: R$ 1.451. Isso seria o mínimo a ser pago para professores com jornada semanal de 40 horas. Acontece que esse número é de araque: mesmo sendo federal, a lei do piso não vale em 17 estados. Também não é cumprida na maioria dos municípios. Isso quer dizer que os resultados desastrosos do Brasil na educação podem ser explicados com clareza: não existe ensino sem educador. E não existe educador sem salário. Como não existem médicos ou policiais. Simples assim.

Escrevi educadores, mas devia ter escrito educadoras. O Brasil é o país das professoras. Com exceção da Itália, em nenhum outro país do mundo há tantas mulheres exercendo o magistério quanto aqui. Pesquisa da Unesco mostrou que, da 1ª à 6ª série do ensino fundamental, a porcentagem de mulheres dando aulas no Brasil é de 94%. Em um total de 138 países comparados, a porcentagem só não é maior do que a da Itália, onde as mulheres representam 94,6% dos professores nesse nível de ensino.

O perfil majoritariamente feminino dos professores nas séries iniciais não é exclusividade do Brasil. É assim em quase todos os países do mundo, até mesmo nos mais desenvolvidos. A proporção de mulheres dando aulas na média de todos os países é de 77%. Tudo indica que o trabalho docente é mais atraente para as mulheres, porque elas têm outros papéis em casa. Além disso, especialistas assinalam: por serem mais verbais e mais fluentes, as professoras tendem a favorecer mais a aprendizagem da língua e a expressão oral. E onde estaria a desvantagem?

A grande desvantagem da feminização do magistério é que, no mundo inteiro, a mulher ganha, em média, menos do que o homem, o que tende a baixar o salário do professor. No Brasil, como lá fora, o que se repete é um padrão atrasado: mulheres ganham menos pelo mesmo trabalho. Sim, apesar de terem cumprido uma jornada espetecular nos últimos anos, as mulheres são obrigadas a seguir lutando. Há muito trabalho a fazer. Profissões onde predomina a presença feminina são pior remuneradas e, em geral, têm menor prestígio social.

A desigualdade é cruel em todos ofícios. No caso do magistério, estou certa que prejudica as crianças e o país. Compromete o futuro, ou melhor, limita o futuro. Só a educação garante avanços. Então, é o caso de perguntar: quando essa questão salarial da educação será resolvida? O baixo salário na área da educação é questão antiga. Os primeiros professores foram membros da ordem dos jesuítas e documentos da época já falavam em baixos salários e péssimas condições de trabalho. No século 19 os homens se afastaram da educação fundamental e as mulheres assumiram os encargos da educação.

Além de bem aceita socialmente, era uma alternativa para contribuir com a renda familiar porque o marido, sobretudo o funcionário público ou militar, não tinha bons salários. Bem, esse papo de complementar renda não faz mais sentido...Afinal, mais de um terço das mulheres brasileiras são chefes de suas famílias, sustentam suas casas e criam os filhos sozinhas. Se forem professoras, terão enormes dificuldades para honrar seus compromissos. Não é justo. Por razão simples: nenhum trabalhador qualificado pode viver com tão pouco.

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