Poema do beco
Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte?
— O que eu vejo é o beco.
Pneumotórax
Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
— Trinta e três . . . trinta e três . . . trinta e três . . .
— Respire.
— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
Belo Belo I
...Não quero o êxtase nem os tormentos.
Não quero o que a terra só dá com trabalho.
As dádivas dos anjos são inaproveitáveis:
os anjos não compreendem os homens.
Não quero amar
Não quero ser amado.
Não quero combater.
Não quero ser soldado.
— Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples.
Belo Belo II
...Não quero óculos nem tosse.
Nem obrigação de voto
Quero a solidão dos píncaros
A água da fonte escondida
A rosa que floresceu
Sobre a escarpa inacessível
A luz da primeira estrela
Piscando no lusco-fusco...
Quero dar a volta ao mundo
Só num navio de vela
Quero rever Pernambuco
...Quero o moreno de Estela
Quero a brancura de Elisa...
Quero as sardas de Adalgiza....
Quero tanta coisa!
Mas basta de lero-lero
vida noves fora zero.
Nenhum comentário:
Postar um comentário