terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Só às vezes

Só às vezes
Quanto tempo mais. Já não muito.
Porquê tanto tempo já. Não sei porquê.
Não terminará nunca. Não perguntes.
Nunca terminará. Para quê perguntar.

Falo sempre contigo,
mas já não com amabilidade,
tenho demasiadas perguntas.
Também sobre o teu paradeiro.
E onde estiveste nos anos comuns.
Com quem falaste,
quem estrangulaste, a quem pediste,
a quem gritaste.

Eu estive à tua disposição.
muitas vezes tive medo, mas expulsava
os meus receios com o amor, nem sequer
me atemorizei nas tuas mãos,
só às vezes, e sempre demasiado tarde.

Ingeborg Bachmann (1926-1973), da colectânea póstuma Ich weiβ keine bessere Welt / Não sei de nenhum mundo melhor (2000).

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