Lula é uma das duas ou três figuras que explicam a história recente do
Brasil. Há outras pessoas importantes para se perceber o Brasil, como Getúlio, Juscelino, Fernando Henrique
e Ulysses Guimarães. Mas Lula é sem
dúvida a mais reluzente delas. Muitas coisas que marcam nosso dia-a-dia têm a ver com o pensamento dele. Exemplo:
a ideia de que país rico é país onde os pobres não passam fome.
Uma vez, quando ainda estava no jornalismo, chamei-lhe o idealista
pragmático, ou o revolucionário pragmático. Ninguém pode negar sua atitude revolucionária.
Dizem que Lula não é e nunca foi de esquerda. Balela. Sempre foi sindicalista
e nunca abandonou a necessidade da violência, da luta armada, nunca defendeu
que a transição no Brasil pudesse ser pacífica. Submeteu-se para chegar ao poder, mas no peito carregava e carrega o ideal socialista.
De todas as pessoas públicas que conheci no jornalismo, Lula é das mais
vaidosas que é possível imaginar. É uma vaidade explícita. Além de dizer “eu
sou o melhor”, ele parece acreditar na imagem que ele faz de si próprio na
ficção. É um homem que se descreve a si próprio como a encarnação viva de um ideal
que lhe apaga a personalidade, que lhe tira a pulsão pelos defeitos, que lhe
apaga os pecados. Na verdade ele os nega.
Lula, mais do que ninguém, tem consciência de que sua prisão é o maior dano
que poderia lhe acontecer. Não é por acaso que ele decidiu negar a realidade para
ser uma memória presente e calorosa. Não dá para ignorar sua resiliência.
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