quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

O peso da verdade


Minha filha Júlia é absurdamente sincera comigo e, de modo geral, com todas as pessoas. A melhor palavra, aliás, é brutalmente sincera. Sei que seu estilo direto, franco, honesto e sem rodeios, mostra que ela tem mais virtudes que defeitos.

Ela não lida com a hipocrisia. Nem como exigência social. Só que preciso confessar uma coisa: a sinceridade da minha filha magoa um bocado. Procuro pensar que o problema é meu, vai ver tenho muitos defeitos, é isso.

Não consigo, porém, deixar de sofrer quando ela fala como se estivesse me insultando.  Além dela, ninguém mais me trata de modo tão honesto. Não que as outras pessoas tenham sido desonestas comigo. Não é isso.

As demais pessoas, incluindo meu marido, meus irmãos, meus amigos e minhas amigas, são moderadas e extremamente gentis. Percebo nelas, no entanto, alguma omissão, ou certos eufemismos.

Minha filha não, minha filha me insulta com a verdade. Sempre tive admiração pela sinceridade dela, mas, confesso, bastante envergonhada aliás, que eu preferia que ela fosse brutalmente sincera só com os outros.   

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