A raiva subiu, o sangue ferveu. Peguei a bolsa, disse alguns desaforos e saí. Apressei o passo para não sentir o coração doer. Na poeira da vida ficava uma amizade de duas décadas. Ficava também o trabalho de assessoria de imprensa que ocupava meu tempo. Pensei: foi chão que deu uvas. E o tempo não volta para trás. Respirei fundo e me preparei para ficar sem fazer nada durante algum tempo. Fui para casa. Sempre trabalhei desde os 14 anos e, pela primeira vez, interditei minha vida de antes. Queria ser irresponsável, mesmo correndo o risco de entrar no cheque especial e ter o nome no Serasa. Queria não pensar em coisa nenhuma para não constatar obviedades. Exemplo: como umas poucas escolhas infelizes podem mudar a vida de qualquer pessoa. E daí? Vidas devem mudar mesmo... Trinta dias depois, porém, tive vontade de voltar à tona e comecei a me sentir isolada, como quem tem doença contagiosa. Em casa, não acontece nada. Parece que estou numa prisão domiciliar. Não demora e começo a sentir medo, além de muitas dúvidas. Fico me perguntando que crime cometi... A conclusão é elementar: o crime de ter falhado no cumprimento da minha pena. Despeço-me, então, da prisão domiciliar e volto ao trabalho, onde cumpro a sentença submetida ao rigor comum a todos os filhos de Adão: ganharás o pão com o suor do teu rosto. Esta é a sentença. E desta sentença não há recurso.
terça-feira, 23 de junho de 2015
sábado, 6 de junho de 2015
De onde vem o mal à nossa volta?
"Quando o oportunismo imediatista é
percebido como a regra do jogo, cada um se defende como pode. Mas ao tentar
agarrar aqui e ali a sua vantagem particular e o seu prazer imediato, ao
transgredir e ignorar sempre que for conveniente as leis e normas impessoais de
uma convivência civilizada, as partes terminam involuntariamente criando um
monstro coletivo que não esperavam - um todo social hostil, no qual elas não se
reconhecem e que se abate sobre as suas vidas com a fatalidade inocente de uma
catástrofe natural. O sentimento sincero e generalizado de cada uma das partes
quando olha para si própria e ao redor de si é o de que ela não tem nada a ver
com o mal que percebe à sua volta. O mal que ela encontra fora de si, contudo,
não passa no fundo do resultado agregado de uma miríade de ações divergentes,
cada uma delas minúscula em si mesma diante do todo social, mas conjuntamente e
ao longo do tempo poderosas o suficiente para erodir o estoque de confiança
interpessoal e configurar um quadro de incerteza, adversidade e violência que,
se não chega a arruinar por completo, seguramente prejudica e empobrece de
forma sensível o relacionamento humano na vida prática e efetiva."
Eduardo Giannetti (Auto-engano)
sexta-feira, 5 de junho de 2015
quinta-feira, 4 de junho de 2015
Só o que conta é o futuro
«O principal para que o Governo tenha êxito é saber persistir. Ter a coragem de não mudar de rumo, independentemente dos acidentes de percurso. Recomeçar, pacientemente, quantas vezes forem necessárias. Tomar decisões. Não se deixar perturbar por agressões verbais, por incompreensões ou por injustiças. Aguentar de pé. Para os homens de convicção e de reta consciência, o que conta é sempre - e só - o futuro.»
Mário Soares, 15 de Maio de 1984 (em A Árvore e a Floresta, Perspectivas & Realidades, 1984)
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