quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Ao mestre, com carinho!





Noblat, querido!
Sinto sua falta. Se puder, reserve um pedacinho do seu tempo para que eu possa ir abraçá-lo. Sei que sua nova rotina tem restrições, então propondo a seguinte pauta para nosso encontro: falar mal de todo o mundo, com ênfase nos médicos insuportáveis que nos assistem.
Platão dizia que entre um médico e um cozinheiro as pessoas certamente elegeriam o cozinheiro. Grande Platão! Acho que eu até faria campanha com panela na cabeça. Tenho horror da maldita pletora da saúde que nos obriga a dizer “sim”. Sim ao remédio, à dieta, ao exercício físico e até ao sono sem sonhos.
Estou mesmo com saudades. Sabia que você continua ao meu lado em todas as vezes que leio qualquer notícia de jornal? E que continuará sendo assim para sempre? Leio o jornal e penso imediatamente no que você faria com aquele fato e aqueles personagens. Chego a rir sozinha com o realismo da memória.
É bom lembrar tempos felizes, quando eu achava você melhor que Deus, melhor que o Diabo. Tão obstinados em pescar almas, a nenhum dos dois iria ocorrer a idéia que você concretizou com tanto êxito: levar um grupo de jornalistas a acreditar que poderia escrever, de forma verdadeira, a história do seu tempo.
Quem poderia imaginar que um jornal atolado em dívidas com o banco oficial iria tornar-se a melhor, mais eficaz e a mais criativa tribuna política do país? Pois é, você sabia que era impossível, mas, mesmo assim, foi lá e fez. E como fez!  Não é por acaso que devo a você algumas das melhores lembranças que carrego no peito.
Para dizer a verdade, devo-lhe mais que lembranças. Devo-lhe a paixão pelo jornalismo. Estou certa que não há como agradecer uma dádiva desta. A outra certeza que tenho é que não importa o manicômio para onde eu vá, nunca mais vou me divertir tanto quanto no tempo que você fez o favor de deixar-me acompanhá-lo.
Um grande beijo,
Vanda Célia

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