Meus amigos me conhecem como sendo uma pessoa que tem boa memória. É verdade. Me apego a detalhes incríveis e consigo mostrar a todos que conservo lembranças detalhadas do passado mais remoto. Tento me lembrar de tudo que posso. Uma vida sem memória não seria vida.
A nossa memória é a nossa coerência, a nossa razão, a nossa ação, o nosso sentimento. Sem ela, não somos nada. Mas o que é mesmo a memória? Em “O Meu Último Suspiro”, livro semibiográfico, Luis Buñuel, logo de ínicio, antes de começar a evocar o passado, adverte o leitor: ele pode se deparar com falsas recordações nas páginas seguintes. O cineasta tem razão.
Indispensável e onipotente, a memória é também frágil e ameaçada. Ameaçada não só pelo esquecimento, o seu eterno inimigo, mas também pelas falsas recordações que a invadem dia após dia. A memória é constantemente invadida pela imaginação e pelo devaneio.
Temos a tentação de acreditar na realidade do imaginário, tanto que podemos fazer da nossa mentira uma verdade. O que é, aliás, de uma importância relativa, já que uma e outra são igualmente vividas e pessoais.
Quem não faz uma seleção do que deseja realmente lembrar e do que deseja esquecer? Quantas vezes a gente não assume, no passado, uma coragem que nunca teve e que nunca vai ter?
Como diz, lindamente por sinal, o cineasta e escritor Luiz Buñuel na abertura do seu magnífico livro: (…) "Sou composto pelos meus erros e dúvidas, a par das minhas certezas. Não sendo historiador, não recorro a quaisquer apontamentos ou a qualquer livro. O retrato que aqui proponho será sempre o meu, com as minhas afirmações, hesitações, repetições a lacunas, com as minhas verdades e as minhas mentiras, numa palavra: a minha memória.”
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