sexta-feira, 28 de junho de 2013

A bandeira está de volta...


A bandeira do Brasil está de volta às primeiras páginas dos jornais e das revistas e, com ela, todo o patriotismo que nos une. É bonito de ver essas coisas porque nessas horas os brasileiros esquecem tudo de ruim que existe e passam a achar que o Brasil está onde o seu futebol o coloca. E o ego da galera fica gigantesto. Tão gigantesco que ninguém mais consegue ver a desigualdade e o atraso do País na saúde, na educação, na segurança, na cultura e na tecnologia. Pois é, falta muito para a construção de um Brasil mais justo e mais decente, mas vamos chegar lá. Temos muitas vantagens e uma das maiores é o patriotismo que nos une, e que sempre ajudou o Brasil a superar todas as crises ao longo de sua história. 

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Eu me rendo...




A Igreja Católica (a que pertenço) está a favor das manifestações. O Sindicato dos Jornalistas (a que pertenço) está a favor das manifestações. Os «intelectuais e artistas» (aos quais vagamente conheço, mas admiro) estão a favor das manifestações. Os políticos que receberam meu voto estão a favor das manifestações. Meus amigos, minhas amigas, minha filha e meu genro estão a favor das manifestações. Estou mantendo a calma, mas espero que o Vasco da Gama não se pronuncie.



quarta-feira, 19 de junho de 2013

Para que serve a política?

A confiança nas instituições do poder – e não apenas do poder político – se encontra, certamente, ao rés do chão. Essa confiança nunca foi extraordinária, mas agora tornou-se ostensiva a ideia de que não podemos confiar – nos líderes políticos, nos gestores, nos líderes dos trabalhadores; nos jornais, nas televisões, na Justiça, nas igrejas ou nas escolas.

Não podemos confiar porque, estranhamente, cresce a impressão que nenhum destes poderes, instituições ou pessoas, funciona como deveria funcionar; nenhum destes poderes age sem uma qualquer obscura motivação ou interesse. Por isso, chegamos neste estado de coisas.

E agora, o que fazer? Temos de mudar. Creio que precisamos refletir, voltar à política e buscar soluções com maturudade. Não adianta exigir rupturas e revoluções. O Brasil não é uma ilha e não se mudam as leis da economia e da concorrência.

A mudança deve vir, mas penso que terá de ser sensata e eficaz, levando em conta que não podemos perder conquistas porque a vida dos mais pobres no Brasil melhorou bastante nos últimos 20 anos. E tudo isso custou muito a todos nós que fazemos parte da sociedade brasileira.  

Depois de tudo que ocorreu nas últimas horas, vamos ver o que vai acontecer, mas torço para que governadores, deputados, senadores, empresários e a presidente da República, enfim, todos os líderes, busquem propósitos grandes, realistas e firmes. Não devemos ser um país de fins intermédios, interesses particulares e promessas próximas.

A política deve tratar da paz e da prosperidade das pessoas, mas deve também servir para traçar grandes propósitos. Afinal, nada nessa vida tem muito sentido sem algum ingrediente de sonho e de grandeza épica.  



terça-feira, 18 de junho de 2013

Tenho medo de multidões...



Tenho medo de multidões. As verdadeiras barbaridades costumam emergir no meio de multidões. Na nossa solidão, ou na companhia dos amigos e da família, somos agradáveis e toleráveis; mas experimentem juntar um punhado de pessoas e vejam o vandalismo de imediato.

Nos protestos, observem a minoria que espuma um imenso ódio e que sai na frente quebrando e incendiando tudo. Não faz sentido. Como disse Jean Paul Sartre, “a violência, seja qual for a maneira como ela se manifesta, é sempre uma derrota”.

É preciso tentar entender a insatisfação das pessoas sim, mas, é preciso, igualmente, pôr a cabeça em ordem. A democracia não é nenhum regime de multidões, nenhum regime da rua, nenhum regime em que os vândalos andam à solta a praticar insanidades.

A democracia, queridos amigos e queridas amigas, é apenas uma forma de convivência pacífica, regrada, decente, que nos permite conduzir livremente a nossa vida, jantar de garfo e faca, tomar banho morno e ter certeza que o lixo da rua será recolhido.

Costumo assustar-me com algumas coisas, mas nada me irrita mais que aqueles que acham possível construir uma sociedade decente sem ordem, sem regras e sem uma noção digna e relevante da função das forças policiais e de segurança.


sábado, 15 de junho de 2013

Eu protesto...



Em Brasília, certa vez, queimaram um índio e a popularidade do então presidente Fernando Henrique Cardoso desabou oito pontos em um mês. Quem contou a história à revista Época, onde eu trabalhava na ocasião, foi o próprio Fernando Henrique durante entrevista no Alvorada. O que ele queria dizer? 1) que um Presidente da República, mesmo não tendo nada a ver com alguns fatos, acaba pagando o pato por quase tudo de ruim que acontece e 2) que coisas ruins, às vezes, acontecem porque os países passam por momentos imprevisíveis e injustificáveis de grande impaciência social, com as pessoas exaustas e os jovens quebrando o que encontram pela frente. Será que chegou a nossa vez?
 
Nossa juventude está se metendo em formas variadas de protesto. Do Movimento Pelo Passe Livre passando pela Parada Gay, Marcha da Maconha, Marcha das Vadias, Veta Dilma, Existe Amor, Apoio ao Movimento dos Sem Teto e Fora Pastor Feliciano. Muitos usam nas redes sociais o sobrenome Guarany Kayowá em apoio aos índios. "Se a tarifa não baixar, a cidade vai parar!", gritam em São Paulo. Querem transporte público, mas depredam estações de metrô. Condenam Belo Monte, mas passam dias e noites nas redes sociais gastando energia.

A indignação é um direito, mas adianta pouco. Este pensamento conservador me ocorre desde a juventude. Na verdade, nunca alimentei ambiguidades sobre minha eterna condição de conservadora,  moderada. Sempre fui parte desta minoria. Meus amigos de esquerda,  que formavam, e ainda formam a maioria, é que adoravam a rua e os protestos. A esquerda adora a rua. A rua é animada, ali há música, dança, alegria e cerveja.  

Na rua protesta-se, empunham-se cartazes, bandeiras, berram-se slogans, desfila-se, aplaude-se! Nas manifestações a política é uma sensação, o mundo é belo  e quando vier a revolução, seremos todos felizes. Como perdi a maioria das manifestações da juventude, por não me alinhar à esquerda, estou querendo me redimir na velhice. Afinal, não faltam razões para protestar.

Pensei em queimar alguns pneus porque a idade impôs-me uma série de chatices físicas que me impedem de atingir a metafísica. Aposto que outros amigos que passaram dos 50 iriam aparecer. Não é todo dia que a gente tem chance de balançar o coreto das autoridades. Outro protesto possível seria, finalmente, adotar o tom do anti-americanismo da esquerda. Depois que Obama passou a espionar todo o mundo, a indignação contra esse inacreditável "Big Brother" pode adiantar pouco, mas é um direito. 

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Fernando Pessoa



Em 13 de junho, há 125 anos, nascia Fernando Pessoa, um dos maiores poetas da língua portuguesa. Sempre leio e releio Pessoa. Em meio a seus desencantos não me sinto tão só.

Poemas


O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.

Fernando Pessoa

“Viver não é necessário; o que é necessário é criar”.

Se achar que precisa voltar, volte!

Não se acostume com o que não o faz feliz,
revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!

Fernando Pessoa


Eu amo tudo o que foi
Tud o que já não é
A dor que já não me dói
A antiga e errônea fé
O ontem que a dor deixou
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência, não pensar...
Fernando Pessoa

"É fácil trocar as palavras,
Difícil é interpretar os silêncios!

É fácil caminhar lado a lado,
Difícil é saber como se encontrar!

É fácil beijar o rosto,
Difícil é chegar ao coração!

É fácil apertar as mãos,
Difícil é reter o calor!

É fácil sentir o amor,
Difícil é conter sua torrente!

Como é por dentro outra pessoa?
Quem é que o saberá sonhar?

A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,

Com que não há verdadeiro entendimento.
Nada sabemos da alma

Senão da nossa;
A dos outros são olhares,

São gestos, são palavras,
Com a suposição
De qualquer semelhança no fundo."
Fernando Pessoa


“Há duas formas para viver a sua vida:
Uma é acreditar que não existe milagre.
A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre.”
Fernando Pessoa



Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas ...
Que já têm a forma do nosso corpo ...
E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos
mesmos lugares ...
É o tempo da travessia ...
E se não ousarmos fazê-la ...
Teremos ficado ... para sempre ...
À margem de nós mesmos...

Fernando Pessoa



Como é por dentro outra pessoa
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.
Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição de qualquer semelhança
No fundo.

Fernando Pessoa

Enquanto não atravessarmos
a dor de nossa própria solidão,
continuaremos
a nos buscar em outras metades.
Para viver a dois, antes, é
necessário ser um.

Fernando Pessoa

"Segue o teu destino...
Rega as tuas plantas;
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
de árvores alheias"

Fernando Pessoa

PRECE


Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.

Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda.

Dá o sopro, a aragem - ou desgraça ou ânsia -,
Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistemos a Distância -
Do mar ou outra, mas que seja nossa!

Fernando Pessoa