O texto mais poético da Bíblia é a Epístola de São Paulo aos Corínthios. Sei disso desde pequena. E conto a história: aos seis anos, quando fui matriculada na escola pública, já sabia ler "de carreirinha" e escrevia pequenos bilhetes ou recados. Era também capaz de resolver continhas de somar e subtrair o que me levou direto para a segunda série. Mesmo tendo um bando de filhos pequenos, e vivendo abarrotada de obrigações, minha mãe me ensinou o que eu sabia no chão de cimento batido da cozinha da nossa casa. Ainda hoje fico emocionada quando lembro da paciência e da confiança que ela tinha em mim. Devo tudo a ela, a começar pela auto-estima que conquistei ali, naquele processo improvisado de alfabetização.
Minhas professoras do primário foram me passando de ano e acabei fechando o curso nova demais para seguir em frente. Só me aceitariam no ginásio depois dos dez anos completos. Sem nada para fazer, fiquei esperando o tempo passar. Com oito graus de miopia, não conseguia praticar esporte. Andar de bicleta, nadar ou brincar de pique-cega, sem trocadilho, eram atividades além das possibilidades. Não havia tv, dvd, computador, nada. O único livro disponível era a Bíblia. Então, comecei a ler as letras miúdas meio que de brincadeira, mas acabei lendo tudo. Resultado: sei, desde pequena, e com segurança, que o texto mais poético da Bíblia é a Epístola de São Paulo aos Corínthios:
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse Amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse Amor, eu nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tivesse Amor, nada disso me aproveitaria. O Amor é paciente, é benigno; o Amor não é invejoso, não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo tolera, tudo crê, tudo espera e tudo suporta. O Amor nunca falha... Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; mas o maior destes é o Amor".
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