quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Final de Ano




O que devemos fazer no intervalo entre um ano que vai e outro que vem? Dar e pedir um tempo. Tempo para pararmos um pouco, olharmos à nossa volta e refletirmos sobre aquilo que fizemos, aquilo que deixamos de fazer, aquilo que não devíamos ter feito e aquilo que podíamos ter feito melhor.



quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Mais um aniversário...




Faço aniversário hoje, 26/12. Não sei se isso é bom ou ruim. Talvez pudesse ser pior...

Quando criança não entendia a razão de nunca ter festa, bolo ou comemoração. Na verdade, está todo o mundo de ressaca do Natal e querendo sossego para esperar o ano-novo.

Nascer nesse dia, espremido entre uma festa e outra, é meio sem graça, mas não adianta reclamar, então vamos comemorar com as pessoas queridas e agradecer por mais um ano de dever cumprido, do início ao fim, sem maiores atrasos e com quase todas as obrigações em dia.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Poema de Natal




Poema de Natal



Para isso fomos feitos:

Para lembrar e ser lembrados

Para chorar e fazer chorar

Para enterrar os nossos mortos —

Por isso temos braços longos para os adeuses

Mãos para colher o que foi dado

Dedos para cavar a terra.

Assim será nossa vida:

Uma tarde sempre a esquecer

Uma estrela a se apagar na treva

Um caminho entre dois túmulos —

Por isso precisamos velar

Falar baixo, pisar leve, ver

A noite dormir em silêncio.

Não há muito o que dizer:

Uma canção sobre um berço

Um verso, talvez de amor

Uma prece por quem se vai —

Mas que essa hora não esqueça

E por ela os nossos corações

Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:

Para a esperança no milagre

Para a participação da poesia

Para ver a face da morte —

De repente nunca mais esperaremos...

Hoje a noite é jovem; da morte, apenas

Nascemos, imensamente.

Vinicius de Morais in "Antologia Poética", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Qual é o texto mais poético da Bíblia?




O texto mais poético da Bíblia é a Epístola de São Paulo aos Corínthios. Sei disso desde pequena. E conto a história: aos seis anos, quando fui matriculada na escola pública, já sabia ler "de carreirinha" e escrevia pequenos bilhetes ou recados. Era também capaz de resolver continhas de somar e subtrair o que me levou direto para a segunda série. Mesmo tendo um bando de filhos pequenos, e vivendo abarrotada de obrigações, minha mãe me ensinou o que eu sabia  no chão de cimento batido da cozinha da nossa casa. Ainda hoje fico emocionada quando lembro da paciência e da confiança que ela tinha em mim. Devo tudo a ela, a começar pela auto-estima que conquistei ali, naquele processo improvisado de alfabetização. 

Minhas professoras do primário foram me passando de ano e acabei fechando o curso nova demais para seguir em frente. Só me aceitariam no ginásio depois dos dez anos completos. Sem nada para fazer, fiquei esperando o tempo passar. Com oito graus de miopia,  não conseguia praticar esporte. Andar de bicleta, nadar ou brincar de pique-cega, sem trocadilho, eram atividades além das possibilidades. Não havia tv, dvd, computador, nada. O único livro disponível era a Bíblia. Então, comecei a ler as letras miúdas meio que de brincadeira, mas acabei lendo tudo. Resultado: sei, desde pequena, e com segurança, que o texto mais poético da Bíblia é a Epístola de São Paulo aos Corínthios:

“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse Amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse Amor, eu nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tivesse Amor, nada disso me aproveitaria. O Amor é paciente, é benigno; o Amor não é invejoso, não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo tolera, tudo crê, tudo espera e tudo suporta. O Amor nunca falha... Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; mas o maior destes é o Amor".

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Oscar Niemeyer e a grandeza das cortinas de concreto






Conheci Oscar Niemeyer em Juiz de Fora, no último ano da faculdade de Jornalismo. Ele aceitou convite dos alunos de Engenharia da UFJF para ser paraninfo, mas a reitoria exigiu que apresentasse um currículo. Claro que a exigência absurda virou um escândalo, que Niemeyer foi paraninfo do mesmo jeito e que a cidade inteira considerou a turma da reitoria equivocada e mesquinha, para dizer o mínimo.  

Oscar Niemeyer era solar e inspirado. “Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein”. Com este belíssimo texto, ele abriu o discurso de uma hora que fez os alunos.

Eu era estagiária do jornal Diário Mercantil, o mais lido da cidade. Por sorte fui escalada para a cobertura do evento e fiquei na fila do gargarejo. Niemeyer falava e, ao mesmo tempo, desenhava. Ao final de cada desenho, deixava o papel escorregar para a platéia. As pessoas passaram a disputar com avidez e interesse os desenhos oferecidos de forma tão gentil e inesperada.

De todos os presentes naquele auditório devo ter sido a primeira a vir morar em Brasília. E a maioria que vem para Brasília parece ter, além de um mesmo destino, uma mesma atitude com a cidade: passa a amar a arte de Niemeyer sobre todas as coisas, mas fica procurando defeitos em tudo. Impliquei com o prédio do Congresso que me parecia (e parece até hoje) um navio encalhado com duas velas brancas implorando ajuda ao céu indiferente do cerrado. Navio encalhado, pensava toda a vez que descia a Esplanada.     

Morador de Brasília implica mesmo. E diz que tudo na cidade é muito bonito por fora, mas que a gente só sabe como é de verdade quando mora dentro, essas coisas. Pois é, ouvi muitas vezes esta frase e devo até tê-la repetido. Ledo engano, claro. Brasília é única e nada supera sua vasta linha de horizonte. Nada, igualmente, supera o traço do seu arquiteto.      

Proust escreveu que era preciso guardar um pouco de céu azul na nossa vida e sempre penso que até parece que ele conhecia Brasília. Já as linhas da arquitetura deixam qualquer um  maravilhado. Sem dúvida, trata-se da beleza construída mais moderna, ousada e despojada que foi feita no mundo. Então, chega o dia em que todos entendem: Niemeyer é um gênio.   

Eu já achava isso quando o vi pela segunda vez. Ele veio a Brasília orientar a reforma da catedral. Fui escalada para acompanhá-lo, como repórter do Correio Braziliense. Perguntei se ele estava pintando a Catedral de branco por religiosidade. Ele disse que religiosidade sempre esteve presente na vida dele e que seu avô jamais deixou de ir à missa aos domingos, apesar de ser ateu convicto.

Ele foi a pé da Catedral até o Congresso e o segui no meio da comitiva de políticos e jornalistas que se formou em torno dele. Em poucas ocasiões na vida me senti tão privilegiada. Aliás, sou realmente apaixonada por suas obras. Algumas têm detalhes impressionantes como as "persianas" verticais  de concreto aparente do Palácio da Justiça. Sim, cortinas de cimento tão leves que se movem com o vento, como se pudessem voar.

Teoria ...



«Ficamos sozinhos quando somos exigentes. Ficamos sozinhos quando não mentimos. Ficamos sozinhos quando defendemos as nossas convicções. É um preço que estou disposto a pagar.» 
Pedro Mexia 

sábado, 1 de dezembro de 2012

O MAR



O mar rolou as suas ondas negras
Sobre as praias tocadas de infinito.
A boca das espumas nas areias.
Deixa gravado o arco do seu beijo.
E eu que no vento caminho e me abandono
Vou colhendo a colheita abandonada.

(Sophia de Mello Breyner)