quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Os livros são tudo, o resto é nada



Estava certo o poeta Jorge Luis Borges ao imaginar o Paraíso como uma espécie de biblioteca. Os livros são tudo. Só os livros alcançam a eternidade. Nas sociedades, tudo passa, – até mesmo as coisas que pensamos ser importantes. Quem mandava no tempo de Gustave Flaubert? Não importa, importa saber que Madame Bovary, com seu tédio e sua cadelinha, sobreviveu e segue conosco.

E quem foram as celebridades e os magnatas do tempo de Shakespeare? Ninguém sabe. Só Shakespeare está vivo até hoje. Julieta é eterna e sempre será assim. No Brasil, temos Capitu, com seus "olhos de cigana oblíqua e dissimulada" ou "olhos de ressaca". A seu lado, o inseguro Bentinho. Será que ele também amava Escobar? Sempre penso nessa possibilidade. Afinal, são insondáveis os mistérios da alma humana.

Dizem que Machado de Assis desejava formar parte da alta sociedade do Rio de Janeiro. Hoje, ninguém sabe o nome de um só banqueiro ou de um grande comerciante daquele tempo. Só Machado está entre nós com Dom Casmurro, Memórias Póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba. Também seguem conosco Guimarães Rosa, Lima Barreto, Autran Dourado, Graciliano Ramos, Érico Verissimo e tantos outros autores de livros notáveis.

Quem, neste século, e no século passado, não deve alguma coisa ao romance russo Os Irmãos Karamazov? Paulo Francis dizia que Dostoievski inaugurou a psicanálise antes de Freud, não como método terapêutico, mas como investigação da psique. Ele seria o equivalente russo de Shakespeare, "reinventando" o humano. Cabe tudo nos seus livros: o real e o transcendente.

Não há quem não fique maravilhado com Os Miseráveis, de Victor Hugo. Também são pontos máximos da literatura obras como Cem Anos de Solidão, O Apanhador no Campo de Centeio e A Sangue Frio. E Dom Quixote, um dos livros mais extraordinários de todos os tempos? Como esquecer um herói que navega entre a perplexidade e a desorientação em sua quase infinita aventura?

Meu lívro favorito, Antígona, de Sófocles (496–406 a.C.), descreve uma das guerreiras heróicas mais fortes de todos os tempos. Ousada e indomovável, ela foi capaz de assumir os valores éticos mais elevados, mesmo sabendo que perderia a vida. Seu legado: nenhum poder é absoluto. É isso, Borges tem razão. Se há paraíso ele é uma espécie de biblioteca. Os livros são tudo. O resto é lágrima na chuva...

Um comentário:

  1. Vandinha, que maravilha o teu blog. Li vários dos tópicos.
    Um abraço com saudades, do
    Leandro Tripodi

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