sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Aprendi a ler...

Aprendi a ler aos cinco anos de idade no chão de cimento da cozinha dos meus pais. Minha mãe escreveu e recortou as letras do alfabeto no papel de pão. Depois, ensinou a dar ordem naquele mundo novo. Desde então, ler é a habilidade que mais utilizo na vida.  

São Paulo


Estou com vontade de ir a São Paulo, cidade onde o sol quase não chega para aquecer a alma.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Casos e Coisas Duda Mendonça


O FATOR DUDA


 

Duda Mendonça é um mago do marketing político porque altera radicalmente a superfície discursiva dos candidatos que assessora. Na sua obra de referência (Casos e Coisas), Duda Mendonça fala de seu estilo vitorioso. Abaixo, as dicas e sugestões de Duda: 

 

1) Comunicação não é o que você diz - mas, sim, o que os outros entendem. O texto tem de ser limpo, adequado, correto. Um texto para a televisão é um texto para ser dito, para ser falado, não é para ser lido. A palavra possui pesos e virtudes diferentes numa fala, num escrito, numa canção, uma vez que cada uma tem o seu contexto, a sua lógica.

 

2) Na televisão você é visto e ouvido, simultaneamente, logo os gestos podem impulsionar ou sabotar a mensagem. Uma simples e rápida sombra de dúvida, na expressão facial do candidato, uma gaguejada, mesmo que discreta, pode detonar as afirmações mais poderosas.

 

3) Quem escreve para a televisão, escreve diferente de quem o faz para um jornal ou uma revista. E não pode nunca se esquecer disso: de que está trabalhando no plano da oralidade, da expressão oral, e não no campo da língua escrita. E quem fala, não é um livro. É uma pessoa.

 

4) Em matéria de campanha política na televisão, a forma é, muitas vezes, mais importante do que o conteúdo. Mesmo porque conteúdo não é sinônimo de verdade, nem forma é sinônimo de maquiagem. A forma como você fala, o jeito como você olha, podem ser muito mais convincentes do que o seu discurso.

 

5) Muitas vezes, algumas pessoas dizem: "Mas você vai mesmo votar em fulano? Ele nem sequer sabe falar". Não interessa. Ele fala com os olhos, fala com as mãos, fala com a alma. E um outro que fala bonito, lendo um texto elaborado, complexo, é frio, não consegue tocar ninguém.

 

6) Números, cifras, papéis e documentos distraem e chateiam o telespectador. Histórias, fatos contados com emoção, ao contrário, envolvem e contagiam. O que quero dizer com isso é que as pessoas sabem compreender as reações humanas verdadeiras.

 

7) Uma reação autêntica vale muito mais do que um discurso conceitual, repetitivo, cheio de números. Esta é uma das lógicas que ditam o meu raciocínio na elaboração da estratégia de uma campanha política.

 

8) Não estou, com isso, menosprezando as chamadas: "mensagens de conteúdo", os projetos de governo, as bandeiras políticas. Não se trata disso. Essas coisas são fundamentais. O que estou tentando dizer é outra coisa.

 

9) Se o meu candidato usa a emoção como linguagem básica, se está sempre atento à forma, falando calmamente, de modo sincero, sem demagogia ou ataques pessoais, sem gestos agressivos, convidando o eleitor a raciocinar com ele, tem mais chances que os outros de se fazer notado e admirado.

 

10) As propostas só são aceitas quando são mais facilmente memorizadas, chegam mais rápido ao coração do eleitor, mesmo que o seu adversário venha com um discurso mais enfático e preciso. Digo isso com certeza, nascida da experiência, de quem já fez dezenas de campanhas políticas, centenas de pesquisas qualitativas, por este Brasil afora, buscando entender, cada vez mais, tanto o raciocínio quanto o sentimento do eleitor.

 

11) Como regra básica e geral: tudo na TV é informação, logo, o que conta não é só o texto, mas o corpo de quem está ali, enviando a mensagem. Contam o timbre da voz, a entonação, as pausas, o olhar, os gestos, a roupa, o corte do cabelo e até um piscar de olhos.

 

12) Um óculos espalhafatoso, ou cabelos esdrúxulos, desviam a atenção que deveria ser dada à mensagem, interferindo, assim, na comunicação, pois você acaba prestando mais atenção na aparência da pessoa do que naquilo que ela está falando”.

 

13) Nem sempre o candidato é o melhor porta-voz de determinada mensagem. “Se é para falar para um público jovem, use um jovem”.

 

 
Esta é palavra mágica: Admiração

P. 57  e 62

 

14) Costumo dizer que o item "conteúdo" se divide em três subitens: o argumento, a capacidade de convencimento e a busca da admiração.

 

15) Afinal, qual é o meu objetivo numa campanha política? O voto, obviamente. E como é que eu consigo isso? Com argumentos e com capacidade de convencimento, é claro.

 

16) Não me canso de dizer que, antes de avançar sobre outro rebanho, trato de não deixar o meu se dispersar. É uma regra básica: não posso perder nenhum voto, aqui. Pelo contrário, tenho que fortalecer o meu eleitor. Com argumentos.

 

17) Numa campanha, mais importante do que "vender" um candidato, é "vender" argumentos para aqueles que desejam votar nele. No meu modo de entender as coisas, a propaganda de televisão, as entrevistas, os comícios, devem ser usados, prioritariamente, para divulgar os argumentos. Eles são a base da nossa campanha.

 

18) Imagine a seguinte cena. O eleitor está num bar, tomando a sua cervejinha de final de expediente, antes de voltar para casa. De repente, um amigo começa a falar mal do seu candidato. Ora, se ele não tiver segurança, se não estiver convicto da sua escolha naquela hora, pode perder a empolgação, dando espaço à dúvida. Aí o seu voto balança. Adiante, pode até trocar de candidato. Isso acontece com muita freqüência. O objetivo da propaganda política, numa hora dessas, é dar ao eleitor condições para desqualificar, de imediato, aquelas críticas e aqueles comentários desfavoráveis.

 

19) O que tenho que fazer é municiar os meu eleitor. Dar argumentos para que ele, onde quer que esteja, sinta-se pronto para sustentar o seu voto e defender publicamente o candidato. Ou que, mesmo que não queira rebater a crítica, não tenha abalada a sua confiança interna. Isso é fundamental.

 

20) Eleição não se decide em escritório de campanha, em mesa redonda de analistas políticos, nem em estúdio de TV. Decide-se na rua. Ao ar livre. Em espaços públicos de convívio, de trocas de idéias, de experiências e de informações. No trabalho, na escola, no bar, na academia de ginástica, no ônibus, na sala de espera do consultório, na praia, no futebol.

 

21) Assim, a primeira meta é transformar cada eleitor num cabo eleitoral. Ele tem que estar afiado e afinado. Ter respostas e propostas prontas, na ponta da língua. Tem que saber dizer, com segurança e clareza, sem titubear um só instante, por que o seu candidato é o bom. Tem que saber responder à indiferença, à rejeição, à intriga, à crítica, ao medo. Tem que ter argumentos para tudo, tem que estar vacinado contra tudo.

 

22) Ao fortalecer esse eleitor "cativo", não só vou consolidando o eleitorado que vota no meu candidato, como começo, aos poucos, a sensibilizar os indecisos, os eleitores "conquistáveis" que, ouvindo essas conversas aqui e ali, vão absorvendo gradualmente os nossos argumentos. Ainda não estou falando diretamente para estes, mas a verdade é que o trabalho da conquista já começou.

 

23) O argumento faz parte, portanto, de uma estratégia de persuasão. Seu objetivo, em publicidade, é o convencimento. Porque uma coisa é a propaganda informativa - por exemplo, o Banco Central avisa que amanhã os bancos não vão abrir - e outra coisa é a propaganda de convencimento. Este é o caso da propaganda política. Ela é feita, sobretudo, para convencer. E é por isso que tem que ser construída sobre um argumento. Mas sobre um argumento claro, lógico, livre do peso do exagero.

 

24) O candidato não é nenhum messias. Ele é um ser humano. E é como ser humano que precisa se aproximar do eleitor e ganhar a sua confiança. Só assim poderá conquistar a sua admiração. Esta é a palavra mágica: admiração. Se o candidato consegue conquistar a admiração da população, ele está muito próximo do sucesso.

 

25) Porque, quando você admira uma pessoa, duas coisas costumam acontecer. A primeira é que você confia muito mais nela. Como conseqüência, acredita mais em suas propostas, em seus projetos. A segunda, você sempre está muito mais propenso a não acreditar em acusações feitas contra o seu herói, a esquecer ou a perdoar os seus eventuais defeitos. Nesse sentido, a admiração é um sentimento elevado. Superior.

 

26) Querem ver? Ayrton Senna, por exemplo. Você o admirava, não é verdade? Lógico que sim. Todos nós tínhamos admiração por ele. É claro que não o conhecíamos muito bem, mas as suas atitudes, a sua forma sincera de falar, conquistaram todos nós. Se alguém nos dissesse que ele era mau filho, mau irmão ou mau namorado, acreditaríamos nisso? Lógico que não. Quem falasse essas coisas seria imediatamente carimbado, por nós, de invejoso ou despeitado.

 

27) Outra coisa: com o passar do tempo, percebi que uma resposta honesta, sincera, ainda que para assumir ou justificar um erro, numa situação embaraçosa, pode deslocar imediatamente o eixo da discussão.

 

28) Um técnico de futebol que, após o jogo, culpa os jogadores pela derrota, tentando salvar a sua pele, é um sujeito que a torcida coloca sob suspeita. Mas se ele é capaz de chamar para si a responsabilidade, passa a merecer, imediatamente, um crédito de confiança. Sua atitude é admirada. Não é diferente o que acontece em política.

 

29) Ao contrário do que muita gente pensa, o candidato que assume o erro, justificando o que fez, pode se sair melhor, no julgamento popular, do que aquele que foge da resposta e da responsabilidade.

 


30) Na cabeça do eleitor, a coragem de falar a verdade e assumir o erro é prova de caráter e sinceridade, que merece respeito e admiração, sentimentos cada vez mais raros hoje em dia. Num debate, por exemplo, isso se expressa de forma evidente.

 

31) Ainda sobre a admiração, apenas mais um segredo. Um segredo que, aliás, talvez explique o sucesso de políticos que, apesar de não terem sido grandes administradores, conseguiram se transformar em verdadeiros campeões de votos. A admiração é conquistada muito mais com atitudes do que com obras.

 

Pesquisa Quantitativa e Qualitativa

P. 65 a 68

 

32) Acredite: quando bem feita, a pesquisa funciona. Mesmo. Numa campanha política, uso pesquisas qualitativas para quase tudo que me desperta dúvidas. Quanto mais certezas você tiver na sua campanha, melhor. Campanha política é como corrida de Fórmula 1: muitas vezes, ganha quem erra menos.

 

33) Como é que se começa...uma campanha? No meu começo, quando não tinha verbas para pesquisas, eu adotava o seguinte procedimento. Primeiro, me reunia com o candidato. Pedia a ele para trazer dez pessoas de suas relações, que o conhecessem bem: a mulher, um amigo, o dono da padaria ou do boteco, a cozinheira, o filho, o motorista, um vereador etc.

 

34) Daí, eu reunia essas dez pessoas e fazia o seguinte. Dava a cada uma delas uma folha de papel, dividida em duas colunas. Pedia, então, que essas pessoas colocassem, na primeira coluna o que consideravam, por ordem de importância, como as dez principais qualidades do candidato (coisas como sinceridade, eloqüência, preocupação com os outros, honestidade, capacidade de comover as pessoas etc.).
 
Na segunda coluna os dez defeitos, que seriam usados pelos inimigos políticos durante a campanha. Ninguém deveria assinar o nome, para que o candidato não identificasse quem havia dito isso ou aquilo. Curiosamente, a coluna das virtudes costumava ser a mais difícil de preencher. Nem sempre era preenchida por inteiro, aliás. E, regra geral, o próprio candidato, a sua mulher e o filho (ou filhos) apareciam como os juízes mais severos.

 

35) Depois de examinar as listas, eu procurava fazer um pequeno texto, resumindo o que elas diziam do candidato. De posse desse quadro sintético, eu ficava sabendo, mais ou menos, o que iria trabalhar. Os "prós" e os "contras" do meu candidato.

 

36) Hoje, o que faço é, em essência, a mesma coisa. Só que utilizando instrumentos de pesquisa. De qualquer modo, antes eu também chegava a um conhecimento do quadro político, ainda que não da forma densa e consistente com que chego hoje. Mas, pelo menos, sabia o que eu tinha de neutralizar e o que deveria destacar, as qualidades e os seus defeitos, supostos ou reais, e como teríamos que abordar isso. Somente a partir daí tinha início o processo de criação.

 

37) É muito importante essa seqüência - primeiro, se informar; depois, criar porque todo criador publicitário corre sempre o risco de se apegar a um trocadilho, a um achado interessante, a uma tirada inteligente, mas que pode não ser adequada. E aqui a palavra-chave é adequação. Ninguém faz uma campanha para que ela seja engraçada ou inteligente. Faz para ganhar.

 
 P.  87

 

38) Sou um criador do óbvio. Em propaganda política, você não tem que estar sempre procurando o inusitado, o diferente, o original. Tem que ser eficaz, obter resultados. Aqui, a busca exagerada da originalidade nem sempre é o melhor caminho. Não estou querendo dizer com isso que eu não faça campanhas criativas. Faço. Mas não é a minha preocupação principal.

 
P. 89 e 90

 

39) Quando você coloca lado a lado o adesivo, o cartaz, a bandeira, o outdoor e o jingle, você tem que sentir que eles fazem parte da mesma história. Que falam a mesma linguagem. Que cantam a mesma alegria ou a mesma ponderação ou o que for. Então, a campanha está aí.

 

40) Todas as peças dialogam entre si, pertencem a um mesmo conjunto. O slogan que aparece escrito no outdoor é cantado no jingle. De preferência, no refrão. Se o slogan é emocional, o próprio ritmo da música também vai ser mais emocional. O que não impede que o jingle venha a ter várias versões, a sofrer alterações em seu andamento rítmico, que pode ser acelerado ou retardado em resposta a situações concretas.

 

41) Na televisão, a música deve ser mais emocional, mais lenta. Já num comício, o ritmo deve ser outro, porque o clima de um comício, ou de uma carreata, é mais dinâmico e eufórico. Mas, para mim, uma coisa tem que estar sempre clara. O jingle é pensado para a televisão.

 

42) Porque, numa campanha política, a televisão é o antibiótico - e todo o resto é homeopatia. Televisão é benzetacil. O sujeito toma aquela injeção pesada e é pau e casca; bateu, valeu. Amanhã, todo mundo toma conhecimento da sua mensagem.

 

43) Jingle é um discurso musical. Jingle é um discurso musical dirigido a um eleitor. Se for bem-feito, vai chegar ao coração dele, até mesmo antes de ter passado por sua cabeça.

 

44) O eleitor não tem que sair por aí cantando o meu jingle. Tem é que incorporar, absolver a minha mensagem. Os argumentos do nosso candidato.

 

45) É preciso usar músicas, muitas músicas. Inclusive, músicas já existentes e não feitas, especialmente, para uma campanha política. Nesse caso, a primeira coisa a fazer é procurar a gravadora e negociar os direitos autorais. Somente quando imagem e som vêm juntos, conjugados, é que ambos se potencializam.

 

46) Não esqueça de que você está empenhado Em convencer. Não gaste o seu discurso com apenas com diagnósticos da situação.

 

48) Por exemplo: “A saúde está um caos. Os médicos ganham mal e muitos faltam aos plantões. Nos hospitais, aparelhos quebrados, falta de remédios, filas enormes...” – e por aí vai. Já vi diversas vezes, em grupos de pesquisa, pessoas resmungarem diante de tais discursos, dizendo: “Disso sei eu, moço, que sou pobre. O que eu quero saber é o que o senhor vai fazer pra dar um jeito nisso, ora bolas”. Ou seja: menos diagnósticos e mais propostas, pelo amor de Deus!

 
O próximo passo é gostar do candidato

P. 109 a 119

 

49) Um programa de televisão bem feito tem a capacidade de prender, de tirar o sono de milhões de pessoas. É vital aparecer na telinha de uma forma inteligente, agradável, original, tentando atrair, convencer, seduzir de todas as maneiras.

50) Se você me perguntar quais são as dez coisas que considero as mais importantes numa campanha política, não vou precisar nem pensar para responder. A primeira, sem dúvida, é o contexto, o momento político em que as eleições se realizam. Essa conjuntura pode ser favorável ou prejudicial a este ou àquele candidato, aumentando ou diminuindo as suas chances de vitória.

 

51) A segunda, sem dúvida, é o candidato. Um candidato-mala é dose para carregar.

 

52) A terceira é o horário de TV. A quarta, o horário de TV. A quinta e a sexta, o horário de TV. Depois disso, vem o rádio. Quanto ao resto, confesso, eu precisaria pensar um pouco. Vai depender da campanha, vai depender do lugar.

 

53) Um bom programa de televisão tem que ter, antes de mais nada, cara de programa de televisão. E uma estrutura bem definida, que não vai mudar, durante toda a campanha. O eleitor tem que se habituar à estrutura de seu programa. Tem que reconhecê-lo tão logo ele comece e identificar quando ele está acabando.

 

54) É importante, portanto, você usar uma vinheta sonora de abertura e uma outra de encerramento. Se você não faz isso, outro candidato pode - ou sem querer, ou querendo - colocar "coisas" coladas no seu programa, para lhe prejudicar.

 

55) A maioria dos programas políticos tem, a cada dia, um formato diferente, dificultando muito a sua identificação pelo eleitor. Por que será que o Jornal Nacional e o Globo Repórter, os programas do Jô Soares e do Boris Casoy, os do Ratinho, da Hebe, da Xuxa e do Faustão, têm sempre o mesmo formato, ao longo de todo o ano? Já pensou nisso? Será que é por acaso, ou se trata de uma técnica cuidadosamente estudada e planejada, com o objetivo de chamar e prender a atenção dos telespectadores?

 

56) Mas não é só. O seu programa tem que ser atual. Tem que falar, à noite, do que aconteceu durante o dia (ou, no máximo, na véspera), como num telejornal. Não pode ser pão dormido - tem que sair do fomo, quentinho. O que significa que não dá para fazer vários programas com antecedência, para estocá-los num depósito. Insisto: agilidade é f-u-n-d-a-m-e-n-t-a-l!

 

 

57) Numa campanha só começo a criar o meu programa de amanhã, depois de ter assistido, hoje à noite, aos programas dos outros candidatos. E isso quer dizer que, na minha equipe, ninguém dorme à noite. Nosso horário de dormir passa a ser outro: das 15 às 20 horas. Às 20h30, todo mundo tem que estar junto, assistindo ao horário político, para, tão logo este acabe, começar a preparar o nosso programa do dia seguinte. No começo, tem gente que estranha um pouco. Depois, se acostuma. É como se tivéssemos viajado para o Japão, onde o dia vira noite e a noite vira dia.

 

58) Não é fundamental, mas, se você tiver um pouco mais de tempo - um programa de seis minutos em diante -, é aconselhável contar com um "âncora", um apresentador fixo, cuidadosamente escolhido. Ele interliga todos os assuntos do seu programa, facilitando a edição e a compreensão pelo telespectador. E, ainda, poupando muitas vezes o candidato de responder a certas críticas e acusações menores, sendo obrigado a falar de coisas sem maior importância.

 

59) Num programa político, tudo deve ser feito de forma a deixar o candidato sempre de cara para o gol. Candidato não cobra escanteio, nem bate tiro de meta. Só pênalti - e sem o risco de perder: como o programa é gravado, basta ir repetindo a cobrança, até que ele consiga fazer o gol.

 

60) O que estou querendo dizer é que a estrutura do seu programa tem que ser feita levando em conta que o candidato só deve falar o que é importante - seu plano de governo e seus projetos, por exemplo. E que, antes de ele aparecer no vídeo, qualquer que seja o assunto sobre o qual vai falar, é preciso criar todo um clima emocional. Preparar o telespectador. Se ele vai falar de segurança, por exemplo, é bom exibir, antes de sua entrada no ar, uma pequena reportagem, ou um comercial, dramatizando a situação. Criar o clima para ele falar do assunto. E, ao final da sua fala, sempre que possível, um vídeo emocional, com caras e tipos bem escolhidos, bem significativos.

 

O eleitor tem que se ver no seu programa. Tem que se identificar com ele. E gostar dele. Se o eleitor começa a gostar do programa, o próximo passo é gostar do candidato.

 

61) Seu programa tem que ser otimista, para cima, com cara de programa vencedor. Tem que ser claro e luminoso. Com falas curtas. Uma montagem dinâmica e moderna, sem, entretanto, ser muito picotada - afinal, MTV é outra coisa, é outro público.

 

62) Para encerrar, mais três toques. Primeiro, é sempre preferível estrear o programa à noite e repeti-lo no dia seguinte, pela manhã. O contrário, nunca. Dessa forma, você estará lançando um programa novo sempre à noite, no horário mais nobre, quando é maior a audiência. E, além disso, evitando um risco. Sim. Se você colocar o , seu programa novo na parte da manhã para reprisá-lo à noite, estará dando, a seus adversários, se eles tiverem muita agilidade, tempo de preparar o programa noturno deles, já sabendo do tema do seu - o que significará, evidentemente, uma grande desvantagem para você.

 

63) Segundo: seus melhores programas têm que ser repetidos várias vezes durante a campanha. É só dar uma atualizada neles: mudar o início, mudar um pouco a edição, para não ficar parecendo requentado, e pronto. Só a equipe publicitária de televisão e a família do candidato - mesmo assim, olhe lá - assistem todos os dias ao horário gratuito.        O eleitor assiste um dia, pula dois, volta a assistir... Na verdade, concentra a sua atenção no início da campanha, quando tudo é novidade - e no final, quando tudo é emoção. Há coisas que têm que ser repetidas várias vezes para marcar e convencer.

 

64) Comerciais: pulverizados ao longo da programação normal das emissoras de televisão, mais ou menos entre as 9 horas da manhã e às 11 da noite, os comerciais têm um poder de convencimento e de fixação de argumentos muito, mas muito maior do que o do horário gratuito grande. A sua freqüência é proporcional ao tempo de televisão do partido, o que pode lhe dar até dez inserções por dia - metade delas no horário nobre, no meio dos programas de maior audiência, em todos os canais de TV! A força desses comerciais é brutal. As suas maiores vantagens são, exatamente, a freqüência, o efeito surpresa e o alto índice de audiência. Eles entram pelo meio dos programas habituais, pegando o eleitor de surpresa. Mas, atenção: isso significa vantagem por um lado e desvantagem por outro. Como uma mensagem política não é das coisas mais divertidas, para quem está assistindo a um bom filme, ao último capítulo da novela ou à decisão do campeonato brasileiro de futebol, ela já é recebida com má vontade. Assim, se o comercial político é chato, sem graça, sem criatividade, o feitiço pode virar contra o feiticeiro. Outro dia, vi um comercial em que um político aparecia dizendo que o seu partido era o partido da ética. A questão é se a declaração é verdadeira ou falsa. Na minha opinião, colocar políticos falando nesses comerciais de campanha já não é o ideal. Porque a irritação do telespectador, diante da interrupção do seu programa preferido, pode ser imediatamente transferida para o político que está lhe interrompendo. Ainda mais falando de ética, num momento como este que estamos vivendo hoje, fortemente marcado por denúncias e escândalos... Decididamente, não me pareceu uma idéia muito feliz. A palavra "ética", nesse momento, vai lembrar, imediatamente, o oposto do desejado. É como empresa de aviação usando a palavra segurança em seus comerciais. Não dá.

 

65) A não ser que eu tenha um motivo muito justo e urgente - como, por exemplo, torná-lo mais conhecido ou atender à necessidade de uma declaração muito importante -, evito, colocar meu candidato falando nos comerciais. Esses espaços são muito poderosos, mas têm que ser aproveitados de forma mais sutil e mais criativa. Aí, valem as regras da propaganda. Mesmo. Do contrário, o tiro pode sair pela culatra.

    Se bastasse você dizer a sua mensagem para as pessoas acreditarem nela, tudo seria muito mais simples. Só que não é assim que a coisa funciona.

 

66) O sujeito não pode chegar na televisão, num pequeno comercial, quando não há tempo para maiores explicações, e, sem mais nem menos, dizer o que ele quer. É preciso todo um cuidado, toda uma sutileza, toda uma argumentação, para você tentar fazer com que as pessoas ouçam o que você tem a dizer. O povo não é mais bobo, minha gente. A coisa mudou, e já faz um bom tempo. O comercial tem se ser sutil, inteligente, apaixonante!

 

67) O debate eleitoral, na televisão, é um show. Mais precisamente, tem muito a ver com o teatro - não só aqui no Brasil, mas em todos os lugares do mundo. E tem que ser encarado assim pelo candidato e seus assessores. Desconhecer essa sua natureza teatral é correr o risco de cometer equívocos básicos, elementares. O que não significa que a história e o saber do candidato não ajudem muito. Mas, como todos sabem, o que fica de um debate na cabeça do público é, muitas vezes, somente um 'detalhe. Uma frase de efeito, uma formulação clara e feliz, uma jogada desconcertante, uma postura precisa, uma atitude, um gesto.

 

68) Ninguém deve subestimar, em momento algum, a importância do gestual no debate, nesse contexto de enfrentamento  político. Tudo o que falei antes, sobretudo nos capítulos sobre forma e conteúdo, encontra aqui a sua aplicação plena. Por isso mesmo, o candidato deve estar sempre atento a tudo. Não pode deixar que a câmera venha a surpreendê-lo numa posição esquisita ou pouco recomendável. Bocejando, por exemplo. Daí porque é importante que faça parte das: regras do debate a exigência de que a câmera acompanhe a voz, o vídeo e o áudio juntos, em sincronia. Isto é, a câmera não pode filmar de surpresa um candidato, enquanto o outro está falando.

 

69) O debate eleitoral é, antes de mais nada, um confronto. Um desafio. E, como todo desafio, mexe muito com os nervos já tensos de um candidato em campanha. Assim, todas as decisões a seu respeito, desde a resolução de participar ou não participar dele, devem ser tomadas com muito cuidado e com muita serenidade.

    Um debate na TV é, sem dúvida, o momento mais temido por todos os candidatos, mesmo que eles não confessem isso claramente.

 

70) A maioria dos políticos - os mais velhos, principalmente - está habituada a comícios, onde a própria interação com o público é fonte de estímulo e excitação. O ambiente fechado e silencioso de um estúdio de TV aparece, então, como um contraste dramático com aquela euforia de praça pública. Olhar para uma máquina e conversar com ela de modo íntimo, com naturalidade, exige, sobretudo, treino. Para se sair bem num debate de TV, o candidato precisa de muitas outras coisas mais do que preparo e competência para ocupar o cargo que deseja. Parece óbvio, por exemplo, que é em comício que se discursa, que se fala gritando. Mas muitos políticos se esquecem disso. E não há lugar para grito na televisão. A TV é um espaço onde se conversa, se argumenta, se convence. A relação entre você e o telespectador é de intimidade. Você está dentro da casa dele, do seu quarto, a pouco mais de um metro da sua cama.

 

71) Qualquer candidato razoavelmente articulado, se preparado como deve, pode se sair bem num debate. Desde que conheça de cor e salteado as suas regras. Desconhecê-las significa já começar o jogo perdendo. É possível que alguém, sem conhecer as regras, jogue futebol e ganhe? Pega a bola com a mão, pênalti; fica parado sozinho na área adversária, impedimento; e por aí vai. Num debate, é a mesma coisa.

 

72) Nada, para você, pode ser uma surpresa. Você tem que saber a sua hora de perguntar, a sua hora de responder e o tempo que dispõe para fazer uma coisa e outra. Tem que saber a sua vez de falar, se quem vai falar por último é você ou o seu adversário, quantas perguntas podem ser feitas a um mesmo candidato num mesmo bloco, se existe direito de resposta em caso de acusações graves etc. etc. Volto a dizer: tudo isso faz parte das regras do debate, estabelecidas de comum acordo entre os assessores dos diversos candidatos. Lembre-se, televisão não é rádio.        Aconselho mesmo aos meus cândidatos que não façam a barba no dia anterior ao debate, deixando para fazê-la duas ou três horas antes de entrar no ar. Aos mais pálidos - recomendo -, um pouco de sol não fará mal. Chegar a um debate tranqüilo, com uma expressão jovial, barba bem feita, descansado, bem vestido e bem-humorado é já entrar em campo com cara de vencedor. Não se esqueça: na televisão, o visual já é meio caminho andado.

 

73) É sempre bom, ainda, se possível, conhecer previamente a cor do cenário onde o debate vai acontecer. Ajuda a escolher o tom mais adequado para a roupa que o candidato irá usar. De qualquer forma, um candidato nunca deve vestir preto ou branco, nem roupas ou gravatas listradas. Na dúvida, melhor colocar um temo azul marinho não muito carregado, camisa azul clara e gravata vermelha. Ou temo cinza e gravata azul.

 

74) Outra coisa: num debate, você só vai improvisar se não tiver jeito. Se não lhe restar nenhuma alternativa. Porque você tem que sair de casa já sabendo quais as perguntas que vai fazer - e a quem - durante todo o debate. E quais as possíveis perguntas que lhe serão feitas. Garanto que isso não é difícil. Basta você e seus assessores listarem quais as dez perguntas que você não gostaria, de jeito nenhum, que lhe fizessem. Aposto, quanto você quiser, que a maioria das perguntas que irá ouvir, ao longo do debate, estará entre aquelas dez que foram listadas. Cabe então a você ter, para cada uma delas, uma resposta clara, segura e convincente. Para saber quantas perguntas você vai ter que fazer e a quantas terá que responder, é só conhecer bem as regras do debate. Mais uma vez, entretanto, cuidado com os amigos. Essas coisas não podem vazar. Devem ficar restritas a duas ou três pessoas, no máximo.

 

75) Impressiona bem o candidato que responde de forma clara, objetiva e calma, sem estourar o seu tempo. Logo, tente ser sempre objetivo em suas respostas. O candidato que se esquiva de responder, ou responde de forma confusa, como disse, também perde ponto com os eleitores. Evite, ainda, ler perguntas ou respostas, ou citar estatísticas demais. É lógico que, aqui ou ali, você pode ler alguma coisa, mas muito pouco. Mais uma vez, me permita a imodéstia: se tem duas coisas de que entendo na vida, uma é briga de galo, outra é debate eleitoral.

 

76)Dica importante: a primeira: monte uma estrutura organizada, com um bom jornalista à frente, coletando todas as entrevistas dadas por seus adversários (em rádios, jornais e TVs), durante todo o período eleitoral, desde a sua indicação à convenção partidária. Catalogue tudo no computador, por temas específicos. Na véspera do debate, você saberá, de antemão, o que eles irão falar, sobre qualquer assunto. Você quer fazer uma pergunta sobre a questão da saúde, por exemplo. Imediatamente, você tem à mão tudo o que seu adversário pensa e propõe a respeito do problema, em seu estado, município ou país. De posse disso, é só você detectar as suas brechas e inconsistências para disparar a pergunta no alvo certo. Duas coisas podem, então, acontecer. Ou o seu adversário repete o que já disse nas entrevistas - e, nesse caso, você já tem todo o seu discurso pronto -, ou simplesmente contraria o que já declarou, e você denuncia isso. Aponta as contradições, citando suas entrevistas, com dia, mês, hora e veículo em que apareceram. É o célebre se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

 

77) A segunda dica é um pouco mais complicada, mas também não é tão difícil assim. Autorize a sua empresa de pesquisas a preparar grupos de discussão quali para o dia do debate. Três ou quatro grupos, pelo menos. Esses grupos irão assistir ao debate ao vivo. E uma assistente da pesquisadora-chefe, devidamente treinada para isso, vai ficar o tempo todo em contato com a sua assessoria, que está com você, dentro do estúdio de televisão. Todas as reações do grupo, boas ou ruins, diante de você ou do seu adversário, serão transmitidas imediatamente para os seus assessores, que, assim, poderão ir monitorando - em tempo real- o que você diz e como as pessoas, em casa, estão recebendo e percebendo as suas palavras. Nos intervalos do debate, as observações mais importantes serão passadas, calmamente, para você. Será fácil, assim, corrigir imediatamente erros de
postura (muito sério, antipático, falando alto, muito agressivo etc.), como, também, aguardar o momento oportuno para retomar a uma pergunta qualquer que você não tenha respondido bem - e reexplicar o seu ponto de vista.

 

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Lembranças....

Na esquerda é comum dizer que os adversários são de extrema-direita, de direita, fascistas e até nazistas. Basta que a pessoa discorde uma vez.
 
A direita também carimba como radical quem não pensa igual.  
 
Sim, as palavras têm peso, têm significado, mas quem se importa? Na boca de alguns as palavras funcionam como escaradas.
 

 

Eu tinha 17 anos quando alguém disse que eu era de «direita». Estava no segundo período do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Juiz de Fora.
 
Fiz a inscrição para disputar a monitoria de uma das disciplinas. Alguém do diretório estudantil me disse para cancelar a inscrição porque a vaga “teria” de ser ocupada por um representante do movimento estudantil. Eu disse "não". Se ele ganhasse, teria a vaga. Como era a regra do jogo.
 
Disputei e ganhei. Um dos rapazes do Diretório me olhou feio e me chamou de monitora  da "direita " assim que saiu o resultado. Não liguei. O tempo passa… e cobre mágoas e ressentimentos. Mais importante que ser isso ou ser aquilo é ser honrado.   Isso eu sei que sou. Também sei que não sou de extremos. Se tivesse de ser alguma coisa, seria de centro.