quarta-feira, 17 de maio de 2017

Vida sexual é vida privada, não é da conta de inguém


Vez ou outra a carreira de um político nos Estados Unidos entra em colapso com a divulgação de escândalos da sua vida sexual. Há casos emblemáticos. Gary Hart viu a sua candidatura presidencial abortada por causa de uma infidelidade conjugal. 

Anos depois, o presidente Clinton foi ameaçado de impeachment em razão do caso amoroso que mantinha com uma estagiária. Em todo o mundo ecoaram as notícias sobre charutos e vestidos manchados no Salão Oval da Casa Branca.

Na América o moralismo é enraizado. E as pesquisas assinalam: a maioria dos norte-americanos acredita que quem mente sobre a vida sexual não merece confiança. Não vejo sentido nesta crença por uma razão que me parece simples e direta: todo o mundo mente sobre a sua vida sexual.

E por que todos mentem? Os motivos são umas vezes louváveis, outras vezes discutíveis, mas sempre compreensíveis. De todo modo, ninguém tem nada a ver com isso. O que devemos exigir dos políticos, e de todos que nos cercam, são valores como firmeza de carácter, correção e honestidade.

Excetuando-se, naturalmente, os casos que envolvem pedofilia, crimes contra vulneráveis e estupro, que devem ser punidos de forma implacável pela Justiça, a vida sexual e privada de ninguém deve ser assunto de exploração política.  

Outro aspecto a considerar: a vida sexual de um político não diz nada sobre a sua ética. Nunca um casto foi mais correto por ser casto, e nunca um devasso foi honesto por causa da sua devassidão.

As medidas da correção e da honestidade não passam por critérios da vida sexual. Se uma pessoa faz isso ou faz aquilo no sigilo de seus aposentos trata-se de assunto exclusivamente dela e da família dela. E de mais ninguém. 

 

terça-feira, 9 de maio de 2017

Cruel e desnecessário


Fiquei impressionada com a hostilidade com que José Dirceu foi recebido em Brasília. Por que hostilizar uma pessoa que já está respondendo à Justiça pelos seus erros? Por que  ir a casa dela fazer arruaça e perturbar o sossego de sua família? Aquilo foi cruel e desnecessário, além de uma manifestação de intolerância incompatível com o nível cultural de uma cidade acostumada a respeitar diferenças.

Sempre achei que existia convivência civilizada em Brasília, uma vez que aqui funcionam as embaixadas e o Congresso Nacional, lugares onde indivíduos que pensam de forma diferente trabalham lado a lado de forma pacífica - na quase totalidade do tempo. Salvo um ou outro ponto fora da curva, a cidade tem a marca da tolerância e do respeito mútuo.

José Dirceu é acusado de atos ilegais que quase todos nós repudiamos, mas isso não dá a ninguém o direito de desrespeitar seus direitos humanos. Ah, mas ele não pode ficar livre e sossegado por que cometeu crimes e ilegalidades. Sim, mas cabe à Justiça decidir a pena, proporcional aos seus erros, que ele deve cumprir. 

Quem quiser criticá-lo  que o faça de forma civilizada, em recintos públicos. O lar de qualquer pessoa é inviolável perante a lei. A propósito: ninguém pode esquecer que a Constituição protege a todos: bons e maus. Não é correto ameaçar com ataques físicos, além de dirigir agressões e impropérios a quem quer que seja.

É isso. Claro que meus pensamentos podem ser criticados e avaliados como equivocados. É discutindo as ideias, mesmo as mais incompatíveis com o nosso modo de pensar e de sentir, que devemos viver e conviver numa sociedade livre. E só assim podemos avançar de forma crescente e constante.