— Quantos rins nós temos?
— Quatro! — responde o aluno.
— Quatro? —
replica o professor com ar arrogante, um daqueles professores que adoram
tripudiar sobre os erros dos alunos, e emenda:
— E para mim
um cafezinho! — se intromete o aluno, dirigindo-se também ao auxiliar do
mestre.
Tiririca, o
professor expulsa o aluno da sala mas, ao sair, o aluno tem a audácia de
corrigir o furioso mestre:
— O senhor
me perguntou quantos rins "nós temos". "Nós" temos quatro:
dois meus e dois seus. Ah, espero que o senhor aprecie merecidamente o
capim que acabou de pedir para o lanche. Espero também que a refeição
lhe ajude a ficar mais calmo e tolerante.
O professar avança em direção ao aluno que sai
correndo para o pátio deixando no ar uma divertida gargalhada.
Este caso é verídico e entrou para a história da Universidade Federal Fluminense. O aluno, ao contrário do que desejava o professor, não sofreu punição. Bem, o aluno era o fabuloso humorista Aparício Torelly Aporelly (1895-1971), mais conhecido como "Barão de Itararé". Aliás, ele se intitulava Barão de “Itararé” em referência à batalha de Itararé, um confronto da guerra contra o Paraguai que nunca chegou a acontecer. Formado em Medicina, Aparício acabou consagrado como um dos grandes nomes do humor nacional.
A propósito: vale a pena ler sua
biografia: “Entre Sem Bater — A Vida de
Apparício Torelly, o Barão de Itararé” (Casa da Palavra, 480 páginas), de
Cláudio Figueiredo. Há também dois outros livros interessantes sobre ele: em
2003, o filósofo Leandro Konder lançou
Barão de Itararé — O Humorista da Democracia” (Brasiliense, 72 páginas).
O texto de Konder é muito bom e também vale a pena: trata-se de uma biografia reduzida.
Quatro depois, o
jornalista Mouzar Benedito lançou o opúsculo “Barão de Itararé — Herói de Três
Séculos (Expressão Popular, 104 páginas). É ótimo, como o livro de Konder. No
final, há uma coletânea das melhores máximas do humorista. Uma delas: “O uísque
é uma cachaça metida a besta”.
Criador do jornal “A Manha”, o Barão ridicularizava
ricos, classe média e pobres. Não perdoava ninguém, sobretudo políticos, donos
de jornal e intelectuais. Ele não era barão, é claro. Mas deu-se o título de
nobre e nobre se tornou. O primeiro nobre do humor no Brasil. Debochava de tudo
e de todos e costumava dizer que, “quando pobre come frango, um dos dois está
doente”. Ele é um dos inventores do contra-politicamente correto. Leia mais
frases abaixo:
O que se leva desta vida é a vida que a gente leva.
A criança diz o que faz, o velho diz o que fez e o
idiota o que vai fazer.
Os homens nascem iguais, mas no dia seguinte já são
diferentes.
Dizes-me com quem andas e eu te direi se vou
contigo.
A forca é o mais desagradável dos instrumentos de
corda.
Sábio é o homem que chega a ter consciência da sua
ignorância.
Não é triste mudar de ideias, triste é não ter
ideias para mudar.
Mantenha a cabeça fria, se quiser ideias frescas.
O tambor faz muito barulho, mas é vazio por dentro.
Genro é um homem casado com uma mulher cuja mãe se
mete em tudo.
Neurastenia é doença de gente rica. Pobre
neurastênico é malcriado.
De onde menos se espera, daí é que não sai nada.
Quem empresta, adeus.
Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira os cinco
dedos.
O banco é uma instituição que empresta dinheiro à
gente se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro.
Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades.
A televisão é a maior maravilha da ciência a
serviço da imbecilidade humana.
Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato.
Precisa-se de uma boa datilógrafa. Se for boa
mesmo, não precisa ser datilógrafa.
O fígado faz muito mal à bebida.
O casamento é uma tragédia em dois atos: um civil e
um religioso.
A alma humana, como os bolsos da batina de padre,
tem mistérios insondáveis.
Eu cavo, tu cavas, ele cava, nós cavamos, vós
cavais, ele cavam. Não é bonito, nem rima, mas é profundo…
Tudo é relativo: o tempo que dura um minuto depende
de que lado da porta do banheiro você está.
Nunca desista do seu sonho. Se acabou numa padaria,
procure em outra!
Devo tanto que, se eu chamar alguém de “meu bem”, o
banco toma!
Viva cada dia como se fosse o último. Um dia você
acerta…
Tempo é dinheiro. Paguemos, portanto, as nossas
dívidas com o tempo.
As duas cobras que estão no anel do médico
significam que o médico cobra duas vezes, isto é, se cura, cobra, e se mata,
cobra.
O voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim,
afinal, o eleitor não terá vergonha de votar no seu candidato.
Em todas as famílias há sempre um imbecil. É
horrível, portanto, a situação do filho único.
Negociata é um bom negócio para o qual não fomos
convidados.
Quem não muda de caminho é trem.
A moral dos políticos é como elevador: sobe e
desce. Mas em geral enguiça por falta de energia, ou então não funciona
definitivamente, deixando desesperados os infelizes que confiam nele.